" A função de um pesquisador de marketing deve incluir aptidões de consultor, proficiência técnica e gerenciamento sólido.Seu maior objetivo é proporcionar informações capazes de identificar problemas e soluções de marketing de maneira a permitir que se efetuem as ações adequadas" Ron Tatham.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Eles resistem mais à crise.



O desencadear da crise econômica mundial vem trazendo um dilema para milhões de lares brasileiros, que nos últimos anos, ascendera, socialmente com o aumento de renda e o acesso fácil ao crédito. Eles são a classe C, que hoje responde por mais ou menos um terço do mercado consumidor do País, do produto básico a habitação.

O que se tornou alvo de estudo foi o comportamento classe C frente à crise. Abaixo, descrevo parcialmente uma reportagem da revista EXAME, publicando pesquisa inédita do instituto Data Popular, feita sob encomenda para a agência de publicidade McCann Erickson, sobre mudanças comportamentais que, pelo menos até o final do ano passado, vinham embalando novos desejos da classe C.

A pesquisa mostra que o consumidor emergente passou a almejar desde o serviço de TV a cabo até a lipoaspiração. "Existe uma mudança cultural, mais do que econômica. São novos valores que influem no padrão de consumo", diz Aloísio Pinto, vice-presidente de planejamento da McCann Erickson. Eles experimentaram as delícias do consumo e se transformaram no grande motor do mercado doméstico. Agora, temem que um dos mais devastadores efeitos da crise - o desemprego - paralise seu recém-adquirido acesso a um universo mais amplo de bens e serviços. A crise chega numa hora em que a classe C começava a sofisticar os hábitos de consumo. "A classe C continuará a consumir, mas de uma forma mais racional", diz Marcos Etchegoyen, vice-presidente da Cetelem, financeira do banco BNP Paribas. Mesmo com uma queda de padrão, a classe C, também chamada de classe média baixa, continuaria a ser, por sua magnitude, a melhor aposta de crescimento para as empresas.
O que também colabora para uma maior resistência da classe C frente à crise é sua composição. De acordo com a FGV, 63% da população acima dos 60 anos, faixa etária com mais de 10 milhões de membros, entra nessa classe. Boa parte dela é aposentada e, portanto, tem renda garantida pela Previdência Social. O mesmo raciocínio vale para o funcionalismo público. São 8,2 milhões de servidores federais, estaduais e municipais, com média salarial de 2 000 reais. "Nem toda a classe C é resultado da pujança do setor privado", diz Neri. "Há um importante componente de transferências públicas para essa faixa da população." Isso tem garantido estabilidade à classe C mesmo em anos de altos e baixos.
Mesmo mais resistente, a classe C está longe de ser blindada contra a crise. Embora haja expectativa de retorno gradual do crédito em 2009, a sensação de insegurança com o aumento do desemprego já acertou em cheio as vendas de produtos de valor mais elevado - como já se vê nos setores de carros e de eletroeletrônicos. "Sem otimismo em relação ao futuro, o consumidor não vai se endividar", diz Carvalho, do Ipea. Por outro lado, a construção residencial para a classe média baixa, incentivada por diversas medidas do governo, demonstra mais vigor. A MRV, construtora que atua nessa faixa, vem registrando uma recuperação. "Depois da paralisação dos negócios em setembro e outubro, as vendas vêm aumentando mês a mês", diz Rubens Menin, presidente da MRV. "A ação do governo foi decisiva para manter a atividade do setor, ampliando os recursos para os mutuários." Se o setor imobiliário será um ponto fora da curva em 2009, só o tempo dirá. O certo é que os desejos de consumo da classe C não desaparecerão - só serão adiados. "É isso o que virá depois da crise. O lado positivo é que as empresas terão mais tempo para se preparar", diz Fernando Mazzarolo, presidente da McCann Erickson.

Detalhe interessante da pesquisa

Na PESQUISA da McCann Erickson, foram entrevistadas 508 famílias em cinco capitais brasileiras, com renda entre 1 000 e 2 000 reais. Também foi realizada uma fase qualitativa, na qual equipes da agência passaram uma semana em casas de consumidores emergentes para analisar o estilo de vida. No trabalho, a TV de plasma surge no topo da lista de desejos de 68% das famílias entrevistadas. Em seguida aparece o celular com câmera digital. O computador já é entendido como fundamental na vida das famílias da classe C. Segundo a pesquisa, tecnologia e entretenimento andam juntos, pois proporcionam diversão às crianças dentro de casa. Isso reflete o temor das famílias, sobretudo das que vivem nas periferias das metrópoles, em relação à violência urbana. O mesmo medo faz com que o exterior das casas nesses locais sofra uma espécie de camuflagem. Os executivos da McCann Erickson se surpreenderam ao ver residências recheadas de eletrodomésticos, mas sem pintura externa. "Há o receio de chamar a atenção, de destoar do bairro. Portanto, não adianta querer vender tinta para uma única casa da rua. Tem de ser para o quarteirão inteiro", diz Pinto, coordenador da pesquisa.

Por Fabiane Stefano, Revista EXAME, 22.01.2009

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